Segunda-feira da 24ª Semana.
Eu não sou digno, ó meu Senhor, de que Tu entres em minha casa. Uma Palavra é suficiente, com ela tudo se transformará. O texto guardado pela tradição coloca na boca do oficial romano das tropas de ocupação, o reconhecimento do trabalho, do poder e da Missão do Nazareno, que lhe era sonegado pelos seus conterrâneos. É certo que esta reflexão aflorou a partir da necessidade de assimilação dos novos povos e nações, com suas relações sociais, que aderiam à Palavra e ao Caminho. Estamos a falar de Lc 7,1-10:
Naquele tempo, 1 quando acabou de falar ao povo que o escutava, Jesus entrou em Cafarnaum. 2 Havia lá um oficial romano que tinha um empregado a quem estimava muito, e que estava doente, à beira da morte. 3 O oficial ouviu falar de Jesus e enviou alguns anciãos dos judeus, para pedirem que Jesus viesse salvar seu empregado. 4 Chegando onde Jesus estava, pediram-lhe com insistência: "O oficial merece que lhe faças este favor, 5 porque ele estima o nosso povo. Ele até nos construiu uma sinagoga". 6 Então Jesus pôs-se a caminho com eles. Porém, quando já estava perto da casa, o oficial mandou alguns amigos dizerem a Jesus: "Senhor, não te incomodes, pois não sou digno de que entres em minha casa. 7 Nem mesmo me achei digno de ir pessoalmente a teu encontro. Mas ordena com a tua palavra, e o meu empregado ficará curado. 8 Eu também estou debaixo de autoridade, mas tenho soldados que obedecem às minhas ordens. Se ordeno a um: 'Vai!', ele vai; e a outro: 'Vem!', ele vem; e ao meu empregado 'Faze isto!', e ele o faz". 9 Ouvindo isso, Jesus ficou admirado. Virou-se para a multidão que o seguia, e disse: "Eu vos declaro que nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé". 10 Os mensageiros voltaram para a casa do oficial e encontraram o empregado em perfeita saúde.
Este relato contém três paradoxos sociais com os quais o Movimento de Jesus e as primeiras comunidades de seguidores tiveram que lidar. O primeiro é que o Nazareno é contatado pelos Anciãos, ou seja, a junta de representação e de gestão administrativa, que servia de interlocução com as tropas de ocupação. Eram pessoas de proeminência social, que tentaram convencer a Jesus da necessidade e da importância do atendimento deste apelo, sendo Ele um judeu marginal e que constantemente desafiava os doutores da lei. O segundo paradoxo está no nível de relação entre este comandante e o seu servo, que o faz passar por cima dos convencionalismos sociais, das regras de ocupação, e do orgulho da potência estrangeira, que apesar de todo seu poderio e da sua ciência, se rende a Jesus, um judeu-marginal que desafiava o poder estabelecido e os doutores da lei. O terceiro, e ultimo, paradoxo é que o oficial comandante das tropas estrangeiras ao qual estava submetida toda a região, sua elite e suas autoridades, reconhece a Dignidade, a Missão e o Mestre, na Sua capacidade de transformação de uma realidade cruel. Aprendi desde muito cedo que as necessidades é que ditam as regras da Vida. Tive uma tia-avó materna, Tia Dindinha (Alice), que a chamava esta regra da vida de "Dona Necessidade". Para além do contexto histórico e do sentido primevo que o compilou, vemos as necessidades humanas constituírem forças propulsoras que se sobrepõem aos convencionalismos estabelecidos pela sociedade. Acaso não fosse isso não teríamos visto os poderosos representantes da sociedade e da administração local, recorrer a um judeu-marginal que os desafiava constantemente, de um lado, e do outro, um orgulhoso comandante de ocupação recorrer àquela gente subjugada e dominada pelo poderio militar, para pedir ajuda através da sua representação. Para quem? Para um servo? E o que teria movido o comandante a não ser o Amor? Apenas esta força seria capaz de subverter toda a ordem estabelecida. Pensemos nisso. Que a paz esteja com tod@s!
Imagem colhida na internet. Autoria não conhecida.
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