Quarta-feira da 23ª Semana.
Hoje o texto compilado nos traz aquilo que foi sintetizado pelas primeiras comunidades, como as preocupações básicas do Pai Criador em relação à humanidade. Toda preocupação é expressa pelo cuidado que o Amor tem pelos amados, tão facilmente justificável e ao alcance da experiência humana de amar. Estamos a falar da mensagem contida em Lc 6,20-26.
Naquele tempo, 20 Jesus, levantando os olhos para os seus discípulos, disse: “Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus! 21 Bem-aventurados vós que agora tendes fome, porque sereis saciados! Bem-aventurados vós que agora chorais, porque havereis de rir! 22 Bem-aventurados sereis, quando os homens vos odiarem, vos expulsarem, vos insultarem e amaldiçoarem o vosso nome, por causa do Filho do Homem! 23 Alegrai-vos, nesse dia, e exultai pois será grande a vossa recompensa no céu; porque era assim que os antepassados deles tratavam os profetas. 24 Mas, ai de vós, ricos, porque já tendes vossa consolação! 25 Ai de vós que agora tendes fartura, porque passareis fome! Ai de vós que agora rides, porque tereis luto e lágrimas! 26 Ai de vós quando todos vos elogiam! Era assim que os antepassados deles tratavam os falsos profetas.
O Amor nos ama, nas nossas situações concretas e tão próprias da Vida e da jornada aqui na Terra. O querer de D-us é Amor de pai e de mãe, que não abandona o filho amado em qualquer vicissitude e que só tem olhos e preocupações para com ele no longo Caminho da existência. É do mais fundo e doloroso da experiência humana de pobreza, de fome, de tristeza, de sofrimento, de perseguição, e da condição de insultado e de amaldiçoado pela sociedade, que encontraremos os favoritos de D-us e o olhar cuidador de um Pai Amoroso e Consolador. D-us é zeloso e acompanha apreensivo a situação vivida pelos seus filhos, de igual forma que os pais humanos. Não confundamos o Silêncio de D-us com a indiferença à dor humana. A reposta de D-us, vislumbrada pelas primeiras comunidades para estes infortúnios do homem vem logo em seguida com as imprecações contra os algozes, provocadores, responsáveis e autores dos desditas contra os bem-aventurados. A perspectiva colocada é a social e coletiva. Os males descritos, constituem mazelas sociais provocadas pela maldade, egoísmo e centralidade daqueles que detêm o poder e o utilizam para impingir o sofrimento e a dor aos desfavorecidos ou perseguidos socialmente. Vi, que em determinada cidade ocorreram duas situações aparentemente distintas, porém que constituem o reverso da mesma conjuntura. Numa grande cidade pessoas doentes, porque viciadas, que habitavam algumas ruas e praças, foram expulsas e tratadas como criminosos, por enfeiarem a rica metrópole, quando o problema era de saúde pública e de assistência social. Meses após, outra ocorrência. Desta vez, um banco estrangeiro que aufere lucros altíssimos, acolhe determinada exposição, para depois fecha-la, a pretexto de que alguns símbolos culturais, estariam sendo vilipendiados pela arte, porque seriam sacralizados e ofenderiam a alguns seguimentos. Guardadas as proporções, apenas conjecturando, poderíamos perguntar o que realmente ofende a D-us. Os humanos vilipendiados e escorraçados da via pública, doentes, sem teto, com pertences queimados e necessitados de assistência social, no primeiro caso, ou a arte de uma exposição em recinto fechado onde apenas os interessados teriam acesso, no segundo? O que choca, realmente, e ofende a D-us? A situação dos seus filhos abandonados e necessitados de humanos cuidados ou a visão de um artista demonstrada numa tela? A dura realidade da doença e do descaso social encontrado nas ruas ou a confissão intimista da arte pintada em tela, colocada numa exposição em recinto fechado? O concreto da realidade humana ou o abstrato intimista declarado pela arte? A ótica autoritária de alguns não pode tolher a liberdade de expressão de outros, mormente quando a obra de arte faz parte de exposição em local, com acesso restritos a pessoas interessadas em apreciar e entender o sentimento ali demonstrado. É justamente este o ponto do limite entre a liberdade de expressão e o respeito religioso. D-us não necessita de quem supostamente tome as suas dores. A única coisa que D-us necessita é que nós, os humanos, melhor cuidemos uns dos outros e do mundo no qual habitamos. As balizas já foram formuladas desde a antiguidade a respeito de quais seriam as preocupações de D-us com a humanidade: pobreza, fome, perseguição e injustiça, enfim tudo aquilo que impede a plenitude da Vida. D-us habita na dureza da realidade social e no concreto da existência humana, não no imaginário dos falsos profetas e dos discursos fascistas e moralistas. Pensemos nisso. Que a paz esteja com tod@s!
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