sexta-feira, 30 de março de 2018

Tudo está consumado?

Sexta-feira da Paixão do Senhor.


Este foi o primeiro grande desafio das comunidades dos primeiros seguidores: explicar o aparente fracasso e morte, como preliminar da vitória e da vida que ressurgiria. Jesus foi morto, não por nossos pecados, porém por um sistema de exploração que não tolerava a perda do poder político-econômico. O anúncio de Jesus consistia na apresentação do D-us Pai Criador e da gratuidade do perdão. O D-us Amoroso que acolhe, sempre perdoa e tudo dá. O D-us de Amor que nada pede, que não explora seus filhos e que não troca a Graça pelo dinheiro. Jesus constituía um grande risco para a economia do Templo de Jerusalém, que era a maior força econômica do Oriente Médio, à época. Para os sacerdotes, daquele tempo, o pecado e a Graça de D-us, que o apagava, tinham um preço, na conformidade de 'tabelas' elaboradas pela engenhosidade humana. E quantos bois, cabras, bodes e pombos, foram dados em ofertas, comprados diretamente no comércio do Templo? Pessoas comuns nunca transportariam animais ao longo das extenuantes viagens à pé, levavam o dinheiro e os trocava diretamente no Templo, que fornecia a matéria para o culto e os sacrifícios. Tudo muito prático e estruturado. Uma nação inteira, com romarias compostas por um povo 'carregado de pecados e culpas', aliviadas de imediato por solícitos religiosos sempre dispostos a fornecer o que precisavam mediante um determinado preço. Quanto mais pesada a consciência tomada pela culpa, maior o preço para para aliviá-la. Este era o negócio que não poderia ser prejudicado: a circulação do dinheiro, os lucros econômicos e o sistema de poder. E quanto disso não persiste na atualidade? Estamos em  João 18,1-19,42.

1 Jesus saiu com os discípulos para o outro lado da torrente do Cedron. Havia aí um jardim, onde ele entrou com os discípulos. 2 Também Judas, o traidor, conhecia o lugar, porque Jesus costumava reunir-se aí com os seus discípulos. 3 Judas levou consigo um destacamento de soldados e alguns guardas dos sumos sacerdotes e fariseus, e chegou ali com lanternas, tochas e armas. 4 Então Jesus, consciente de tudo o que ia acontecer, saiu ao encontro deles e disse: A quem procurais? 5 Responderam: A Jesus, o nazareno. Ele disse: Sou eu. Judas, o traidor, estava junto com eles. 6 Quando Jesus disse "sou eu", eles recuaram e caíram por terra. 7 De novo lhes perguntou: A quem procurais? Eles responderam: A Jesus, o nazareno. 8 Jesus respondeu: Já vos disse que sou eu. Se é a mim que procurais, então deixai que estes se retirem. 9 Assim se realizava a palavra que Jesus tinha dito: "Não perdi nenhum daqueles que me confiaste". 10 Simão Pedro, que trazia uma espada consigo, puxou dela e feriu o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. O nome do servo era Malco. 11 Então Jesus disse a Pedro: Guarda a tua espada na bainha. Não vou beber o cálice que o Pai me deu?" 12 Então, os soldados, o comandante e os guardas dos judeus prenderam Jesus e o amarraram. 13 Conduziram-no primeiro a Anás, que era o sogro de Caifás, o sumo sacerdote naquele ano. 14 Foi Caifás que deu aos judeus o conselho: "É preferível que um só morra pelo povo". 15 Simão Pedro e um outro discípulo seguiam Jesus. Esse discípulo era conhecido do sumo sacerdote e entrou com Jesus no pátio do sumo sacerdote. 16 Pedro ficou fora, perto da porta. Então o outro discípulo, que era conhecido do sumo sacerdote, saiu, conversou com a encarregada da porta e levou Pedro para dentro. 17 A criada que guardava a porta disse a Pedro: Não pertences também tu aos discípulos desse homem? Ele respondeu: Não. 18 Os empregados e os guardas fizeram uma fogueira e estavam se aquecendo, pois fazia frio. Pedro ficou com eles, aquecendo-se. 19 Entretanto, o sumo sacerdote interrogou Jesus a respeito de seus discípulos e de seu ensinamento. 20 Jesus lhe respondeu: Eu falei às claras ao mundo. Ensinei sempre na sinagoga e no templo, onde todos os judeus se reúnem. Nada falei às escondidas. 21 Por que me interrogas? Pergunta aos que ouviram o que falei; eles sabem o que eu disse. 22 Quando Jesus falou isso, um dos guardas que ali estava deu-lhe uma bofetada, dizendo: É assim que respondes ao sumo sacerdote? 23 Respondeu-lhe Jesus: Se respondi mal, mostra em quê; mas, se falei bem, por que me bates? 24 Então, Anás enviou Jesus amarrado para Caifás, o sumo sacerdote.Não és tu também um dos discípulos dele? Pedro negou: "Não!" 25 Simão Pedro continuava lá, em pé, aquecendo-se. Disseram-lhe: Não és tu, também, um dos discípulos dele? Pedro negou: Não! 26 Então um dos empregados do sumo sacerdote, parente daquele a quem Pedro tinha cortado a orelha, disse: Será que não te vi no jardim com ele? 27 Novamente Pedro negou. E na mesma hora, o galo cantou. 28 De Caifás, levaram Jesus ao palácio do governador. Era de manhã cedo. Eles mesmos não entraram no palácio, para não ficarem impuros e poderem comer a páscoa. 29 Então Pilatos saiu ao encontro deles e disse: Que acusação apresentais contra este homem? 30 Eles responderam: Se não fosse malfeitor, não o teríamos entregue a ti! 31 Pilatos disse: Tomai-o vós mesmos e julgai-o de acordo com a vossa lei. Os judeus lhe responderam: Nós não podemos condenar ninguém à morte. 32 Assim se realizava o que Jesus tinha dito, significando de que morte havia de morrer. 33 Então Pilatos entrou de novo no palácio, chamou Jesus e perguntou-lhe: Tu és o rei dos judeus? 34 Jesus respondeu: Estás dizendo isto por ti mesmo, ou outros te disseram isto de mim? 35 Pilatos falou: Por acaso, sou judeu? O teu povo e os sumos sacerdotes te entregaram a mim. Que fizeste? 36 Jesus respondeu: O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus guardas teriam lutado para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu reino não é daqui. 37 Pilatos disse a Jesus: Então tu és rei? Jesus respondeu: Tu o dizes: eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz. 38 Pilatos disse a Jesus: O que é a verdade? Ao dizer isso, Pilatos saiu ao encontro dos judeus e disse-lhes: Eu não encontro nenhuma culpa nele. 39 Mas existe entre vós um costume, que pela páscoa eu vos solte um preso. Quereis que vos solte o rei dos judeus? 40 Então, começaram a gritar de novo: Este não, mas Barrabás! Barrabás era um bandido., 19-1 Então Pilatos mandou flagelar Jesus. 2 Os soldados teceram uma coroa de espinhos e colocaram-na na cabeça de Jesus. Vestiram-no com um manto vermelho, 3 aproximavam-se dele e diziam: Viva o rei dos judeus! E davam-lhe bofetadas. 4 Pilatos saiu de novo e disse aos judeus: Olhai, eu o trago aqui fora, diante de vós, para que saibais que não encontro nele crime algum. 5 Então Jesus veio para fora, trazendo a coroa de espinhos e o manto vermelho. Pilatos disse-lhes: Eis o homem! 6 Quando viram Jesus, os sumos sacerdotes e os guardas começaram a gritar: Crucifica-o! Crucifica-o! Pilatos respondeu: Levai-o vós mesmos para o crucificar, pois eu não encontro nele crime algum. 7 Os judeus responderam: Nós temos uma lei, e, segundo esta lei, ele deve morrer, porque se fez Filho de Deus. 8 Ao ouvir estas palavras, Pilatos ficou com mais medo ainda. 9 Entrou outra vez no palácio e perguntou a Jesus: De onde és tu? Jesus ficou calado. 10 Então Pilatos disse: Não me respondes? Não sabes que tenho autoridade para te soltar e autoridade para te crucificar? 11 Jesus respondeu: Tu não terias autoridade alguma sobre mim, se ela não te fosse dada do alto. Quem me entregou a ti, portanto, tem culpa maior. 12 Por causa disso, Pilatos procurava soltar Jesus. Mas os judeus gritavam: Se soltas este homem, não és amigo de César. Todo aquele que se faz rei, declara-se contra César. 13 Ouvindo estas palavras, Pilatos levou Jesus para fora e sentou-se no tribunal, no lugar chamado "Pavimento", em hebraico "Gábata". 14 Era o dia da preparação da páscoa, por volta do meio-dia. Pilatos disse aos judeus: Eis o vosso rei! 15 Eles, porém, gritavam: Fora! Fora! Crucifica-o! Pilatos disse: Hei de crucificar o vosso rei? Os sumos sacerdotes responderam: Não temos outro rei senão César. 16 Então Pilatos entregou Jesus para ser crucificado, e eles o levaram. 17  Jesus tomou a cruz sobre si e saiu para o lugar chamado "Calvário", em hebraico "Gólgota". 18 Ali o crucificaram, com outros dois: um de cada lado, e Jesus no meio. 19 Pilatos mandou ainda escrever um letreiro e colocá-lo na cruz; nele estava escrito: "Jesus, o nazareno, o rei dos judeus". 20 Muitos judeus puderam ver o letreiro, porque o lugar em que Jesus foi crucificado ficava perto da cidade. O letreiro estava escrito em hebraico, latim e grego. 21 Então os sumos sacerdotes dos judeus disseram a Pilatos: Não escrevas "o rei dos judeus", mas sim o que ele disse: "Eu sou o rei dos judeus". 22 Pilatos respondeu: O que escrevi, está escrito. 23 Depois que crucificaram Jesus, os soldados repartiram a sua roupa em quatro partes, uma parte para cada soldado. Quanto à túnica, esta era tecida sem costura, em peça única de alto a baixo. 24 Disseram então entre si: Não vamos dividir a túnica. Tiremos a sorte para ver de quem será. Assim se cumpria a escritura que diz: "Repartiram entre si as minhas vestes e lançaram sorte sobre a minha túnica". Assim procederam os soldados. 25 Perto da cruz de Jesus, estavam de pé a sua mãe, a irmã da sua mãe, Maria de Cléofas, e Maria Madalena. 26 Jesus, ao ver sua mãe e, ao lado dela, o discípulo que ele amava, disse à mãe: Mulher, este é o teu filho. 27 Depois disse ao discípulo: Esta é a tua mãe. Dessa hora em diante, o discípulo a acolheu consigo. 28 Depois disso, Jesus, sabendo que tudo estava consumado, e para que a escritura se cumprisse até o fim, disse: Tenho sede. 29Havia ali uma jarra cheia de vinagre. Amarraram numa vara uma esponja embebida de vinagre e levaram-na à boca de Jesus. 30 Ele tomou o vinagre e disse: Tudo está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito. 31 Era o dia da preparação para a páscoa. Os judeus queriam evitar que os corpos ficassem na cruz durante o sábado, porque aquele sábado era dia de festa solene. Então pediram a Pilatos que mandasse quebrar as pernas aos crucificados e os tirasse da cruz. 32 Os soldados foram e quebraram as pernas de um e depois do outro que foram crucificados com Jesus. 33 Ao se aproximarem de Jesus, e vendo que já estava morto, não lhe quebraram as pernas; 34 mas um soldado abriu-lhe o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água. 35 Aquele que viu, dá testemunho e seu testemunho é verdadeiro; e ele sabe que fala a verdade, para que vós também acrediteis. 36 Isso aconteceu para que se cumprisse a escritura, que diz: "Não quebrarão nenhum dos seus ossos". 37 E outra escritura ainda diz: "Olharão para aquele que transpassaram". 38 Depois disso, José de Arimatéia, que era discípulo de Jesus - mas às escondidas, por medo dos judeus - pediu a Pilatos para tirar o corpo de Jesus. Pilatos consentiu. Então José veio tirar o corpo de Jesus. 39 Chegou também Nicodemos, o mesmo que antes tinha ido de noite encontrar-se com Jesus. Levou uns trinta quilos de perfume feito de mirra e aloés. 40 Então tomaram o corpo de Jesus e envolveram-no, com os aromas, em faixas de linho, como os judeus costumam sepultar. 41 No lugar onde Jesus, foi crucificado, havia um jardim e, no jardim, um túmulo novo, onde ainda ninguém tinha sido sepultado. 42 Por causa da preparação da páscoa, e como o túmulo estava perto, foi ali que colocaram Jesus.



Na Vida é assim: tudo chega a um termo. O ponto de chegada após o Caminho. A Missão cumprida. A finalização. As dores e os prantos têm o seu final, de igual forma que as alegrias e os sorrisos. A nossa vida tem disso. Tem muito disso! Não é à toa que os 'antigos', dos tempos dos nossos avós, guardavam um silêncio profundo neste dia e as rádios 'tocavam músicas fúnebres' (como eram entendidos os clássicos). As imagens cobertas nas igrejas e o silêncio nas ruas completavam o quadro de um sentimento coletivo e do entendimento daquele momento em nossa cultura ibérica, herdada dos invasores e conquistadores da última 'cruzada' que se abateu por estas terras há quinhentos anos. A espoliação foi tão grande que sempre pensei que os santos nas igrejas eram cobertos pelo 'roxo da vergonha' pelo genocídio ocorrido na América Latina e do Norte, no chamado Novo Mundo. Tudo em nome de qual deus? Nestas novas terras que foram espoliadas ao longo dos séculos em nome do 'deus mercado' que se alimentou das suas entranhas e bebeu das suas veias abertas. Esta terra latino-americana, profundamente ibérica em sua cultura 'embranquecida' e miscigenada, a contragosto da elite, com a cultura indígena dos povos exterminados e com a cultura africana dos povos escravizados. A reflexão crítica nos mostra as várias formas de dominação cultural. É deste "caldo cultural" que chega aos nossos dias  os mais diversos sentimentos que alimentam este período e a leitura que fazemos a respeito do Tempo da Quaresma e do Tríduo de preparação para a Páscoa. Parece-me que o nosso povo, ainda vive sob os efeitos de uma 'Sexta-Feira Santa' que já dura quinhentos anos. Os sinais de Esperança são crucificados pelos interesses e políticas econômicas dos poderosos em detrimento do povo empobrecido. Onde encontrar o 'Aleluia' para ser cantado nessas vidas?  A Vida humana não pode se desenrolar 'eternamente' num 'epílogo'. Nesta Sexta-Feira, apesar de toda dor e violência sofrida, que nós, das mais variadas maneiras as sentimos, haverá de passar e apenas ficar na memória como uma história do passado.  A Vida não pode sucumbir à morte, pois se assim o fosse a nossa existência estaria fadada a uma 'morte-em-vida' ou a 'uma não-vida'. A memória deste dia nos revela que apesar de toda a dor, não podemos ser indiferentes ao humano-senso-encarnado de que a Vida irá sair vitoriosa. Pode demorar... até mais do que o imaginado, porém a Vida seguirá o seu curso. A Vida não pode acabar na 'não-vida', pois ela tem em si a Força do Universo e enquanto existir, não haverá lugar para a morte. A Vida sempre encontra o seu Caminho. A Esperança tripudia da morte e dela ri. A nossa sociedade necessita urgentemente de Esperança. As vítimas da violência  necessitam urgentemente da Esperança. As vítimas dos crimes de ódio e da discriminação necessitam urgentemente da Esperança. Nós necessitamos manter viva a Esperança! A história mostra que a mensagem do Reino não sucumbiu na execução da 'morte-ignomínia' da cruz. A história não acabou naquela sexta-feira. A nossa história pode até passar por uma 'Sexta-Feira', porém não sucumbirá! Sempre haverá um amanhã. Caminhemos para o esplendor sonhado da manhã da Páscoa da Ressurreição. Esperemos! Vivamos! Lutemos! A Vida continua e é contínua, da mesma forma que o rio busca o mar. "Por mais escura que seja a noite, mais carrega em si a madrugada", assim pregava Dom Hélder Câmara. Os Evangelhos e os primeiros seguidores, não se preocuparam em descrever a imagem do Nazareno, isto não era importante, o fundamental era disseminar as idéias de Justiça, Paz, Igualdade e de Perdão. As imagens fenecem, porém não se matam as idéias. O que realmente importa é o Caminho que Ele mostrou. A Vida e o Sonho, são essenciais ao ser humano! Livremo-nos das culpas e vivamos na Graça gratuita do D-us de Amor e do seu acolhimento e perdão. Sejamos livres e conscientes criadores de uma nova história e de um mundo novo à imagem do Reino. Que o Senhor, por seu exemplo e força, nutra e sustente o seu povo a Caminho. Olho pela janela nesta sexta-feira, chuvosa e de céu fechado, que não me assusta, pois guardo a Esperança de um novo dia que virá radiante na aurora de algum dia. O céu se abrirá em um novo tempo. Esta é a certeza que acalenta o meu coração! Pensemos nisso. Que a paz esteja com tod@s!

Imagem colhida na internet. Crédito não conhecido.


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