Domingo da 2ª Semana.
As comunidades de seguidores não podem viver isoladas num 'mundo à parte', isolada dos outros ou sentido-se melhores do que as demais. O Mestre de Nazaré nos chama, nos adverte acerca da necessidade de interação com a realidade e do compromisso com a sua modificação à imagem e semelhança do Reino do Pai. A Vida aponta caminhos através dos quais podemos vislumbrar o ponto de chegada, o lugar sonhado ou desejado, a utopia. O Caminho de Emaús, trilhado pelos primeiros seguidores, e pelos que hoje se aventuram no desafio do seguimento do Rabi de Nazaré, pressupõe uma imersão na realidade vivida e a recordação dos fatos ocorridos na Galileia e em Jerusalém, naqueles dias passados. Vislumbraram um pedaço de lá do céu, onde a festa não tem mais fim, por apenas por um breve momento, para regressarem, descerem o monte até o mundo real. A Missão os aguardava. Estamos Marcos 9,2-10.
2 Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, e os levou sozinhos a um lugar à parte, sobre uma alta montanha. E transfigurou-se diante deles. 3 Suas roupas ficaram brilhantes e tão brancas como nenhuma lavadeira sobre a terra poderia alvejar. 4 Apareceram-lhes Elias e Moisés, e estavam conversando com Jesus. 5 Então Pedro tomou a palavra e disse a Jesus: “Mestre, é bom ficarmos aqui. Vamos fazer três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias”. 6 Pedro não sabia o que dizer, pois estavam todos com muito medo. 7 Então desceu uma nuvem e os encobriu com sua sombra. E da nuvem saiu uma voz: “Este é o meu Filho amado. Escutai o que ele diz!” 8 E, de repente, olhando em volta, não viram mais ninguém, a não ser somente Jesus com eles. 9 Ao descerem da montanha, Jesus ordenou que não contassem a ninguém o que tinham visto, até que o Filho do Homem tivesse ressuscitado dos mortos. 10 Eles observaram esta ordem, mas comentavam entre si, o que queria dizer “ressuscitar dos mortos”.
Transfiguração! Vislumbre, sonho ou anúncio de uma nova realidade? A leitura de hoje nos desafia. De repente o Mestre chama três dos seus para uma conversa em local retirado. O que certamente hoje poderíamos traduzir por 'almoços', 'conversas de pé de orelha' ou 'reuniões de porta fechadas', com outros dois expoentes: o Libertador do povo (Moisés) e um dos Profetas maiores (Elias). Está feita a festa. Um dos discípulos, o mais arrojado e destemperado, logo diz: É aqui que devemos ficar! Não precisamos de mais ninguém! Estamos em ótima companhia! A reunião está muito boa. Todos falam a mesma linguagem, se aceitam, se reconhecem e se respeitam. Os três mais novos estão deslumbrados com a aceitação no seleto grupo. Até já se vê o novo céu e a nova Terra! Viva! Somos diferenciados! Quem já visitou o monte Tabor, sabe que é alto, porém não é lá estas coisas. Como lugar mais altitude e isolado dá-nos uma melhor visão do entorno. Pronto! O cenário está completo. E é justamente aí que o Rabi de Nazaré puxa a 'pipa' e dá um 'chá de realidade'! Isto aqui meu amigo é apenas o que Eu sei e o que vocês três pensam que entenderam. Apenas um vislumbre de uma realidade que está por vir. Temos um sonho para construir no mundo real que não está aqui entre nós, porém lá fora, lá embaixo, lá no meio dos demais! O anúncio dar-se pela prática. Aqui temos apenas a vivência confortável de uma teoria. E esta é justamente a maior tentação de grupos e corporações. Lá, junto aos pobres 'mortais' é que vamos aprender a construir e transformar a realidade. Por mais libertadora ou transformadora que seja qualquer mensagem (idéia) que se concretiza num projeto (realidade) deverá interagir com a prática (práxis), e assim constituir-se em algo verdadeiramente libertador ou transformador. O nome disso é método e esta é a pedagogia do Carpinteiro. De nada adianta se juntar para expressar a indignação a respeito do externo, de forma individual ou coletiva (social) , se não atentarmos que a reforma deverá vir de dentro para fora. Não esperemos nunca sermos reconhecidos como 'roupa de grife' pela etiqueta ou procedência, pois o nome disso certamente será farisaísmo. A ação transformadora se dará não apenas em grupos fechados e de igual calibre ideológico, porém na diversidade e interação com a humana sociedade maior. Vamos lá Pedro, Tiago e João, sair daqui e começar o nosso trabalho que é lá fora junto aos outros! Que a paz esteja com tod@s!
Foto: Samuel Osmari.
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