Segunda-feira da 4ª Semana.
O texto compilado tem origem na tradição oriunda das comunidades da Galiléia, cerca de 40 anos após a execução de Jesus, por volta do ano 70 d.C., possivelmente escrito em Roma. O que se busca é preservar a história da vida, da ação e da mensagem de Jesus, em face de uma acentuada tendência de espiritualização. O texto de Marcos busca iluminar os problemas decorrentes da perseguição dos romanos aos cristãos; a rebelião dos judeus na Palestina e as consequências como a Diáspora e a destruição do Templo; os problemas internos de liderança nas comunidades; preservar a memória de Jesus e o sentido da sua execução; e, por fim, esclarecer qual o significado do seguimento do Mestre. O estilo é narrativo, quase jornalístico, presente, histórico, a relatar as ações do Nazareno, muito mais que os seus discursos. O pano de fundo é o embate entre as forças do Reino e as forças da morte. Estamos em Mc 5,1-20.
1 Jesus e seus discípulos chegaram à outra margem do mar, na região dos gerasenos. 2 Logo que saiu da barca, um homem possuído por um espírito impuro, saindo de um cemitério, foi a seu encontro. 3 Esse homem morava no meio dos túmulos e ninguém conseguia amarrá-lo, nem mesmo com correntes. 4 Muitas vezes tinha sido amarrado com algemas e correntes, mas ele arrebentava as correntes e quebrava as algemas. E ninguém era capaz de dominá-lo. 5 Dia e noite ele vagava entre os túmulos e pelos montes, gritando e ferindo-se com pedras. 6 Vendo Jesus de longe, o endemoninhado correu, caiu de joelhos diante dele 7 e gritou bem alto: "Que tens a ver comigo, Jesus, Filho do Deus altíssimo? Eu te conjuro por Deus, não me atormentes!" 8 Com efeito, Jesus lhe disse: "Espírito impuro, sai desse homem!" 9 Então Jesus perguntou: "Qual é o teu nome?" O homem respondeu: "Meu nome é 'Legião', porque somos muitos". 10 E pedia com insistência para que Jesus não o expulsasse da região. 11 Havia aí perto uma grande manada de porcos, pastando na montanha. 12 O espírito impuro suplicou, então: "Manda-nos para os porcos, para que entremos neles". 13 Jesus permitiu. Os espíritos impuros saíram do homem e entraram nos porcos. E toda manada — mais ou menos uns dois mil porcos — atirou-se monte abaixo para dentro do mar, onde se afogou. 14 Os homens que guardavam os porcos saíram correndo e espalharam a notícia na cidade e nos campos. E as pessoas foram ver o que havia acontecido. 15 Elas foram até Jesus e viram o endemoninhado sentado, vestido e no seu perfeito juízo, aquele mesmo que antes estava possuído por Legião. E ficaram com medo. 16 Os que tinham presenciado o fato explicaram-lhes o que havia acontecido com o endemoninhado e com os porcos. 17 Então começaram a pedir que Jesus fosse embora da região deles. 18 Enquanto Jesus entrava de novo na barca, o homem que tinha sido endemoninhado pediu-lhe que o deixasse ficar com ele. 19 Jesus, porém, não permitiu. Entretanto, lhe disse: "Vai para casa, para junto dos teus e anuncia-lhes tudo o que o Senhor, em sua misericórdia, fez por ti". 20 E o homem foi embora e começou a pregar na Decápole tudo o que Jesus tinha feito por ele. E todos ficavam admirados.
A narrativa nos traz para uma realidade vivida no cotidiano. Mais uma vez há o um embate com as 'forças do mal' que não deve ser personificado numa entidade mítica. As situações nas quais as comunidades estavam mergulhadas eram bem reais, naquela época, tanto quanto o é nos dias atuais. As dificuldades são reais e imediatas: fome, desemprego, vagas nas escolas, atendimento médico, corrupção, desonestidade, opressão, discriminação, enfim, a lista é imensa. A morte mata a vida! A impureza nos separa de D-us e está associada aos porcos (na conformidade da tradição judaica). Legião nada mais é que o nome dos exércitos de ocupação romana, que semeavam o medo e a morte, representantes do império opressor. O mar tem uma figura envolta em mistério e caos antes da criação e, ainda, de ser a porta de entrada dos invasores historicamente naquela região, desde os gregos. Os primeiros versículos (1-5) descrevem uma situação onde o mal aliena e maltrata as pessoas. O Evangelho busca descrever o poder do mal como o cemitério e a morte. Está associado ao medo que assusta a todos, privando as pessoas da sua liberdade. Não existe coisa pior do que viver com medo, assutado ou com pânico. E o que ocorre com a presença de Jesus? Diante D'Ele o mal desmorona, cai de joelhos, fica desconsertado (6-10). Ao denominar de Legião, a tradição associa ao poder político e militar dos romanos, que dominava através da suas Legiões. O poder do mal é impuro e não tem consistência (11-13). Não podemos esquecer que a dominação dos exércitos na antiguidade era baseada no poder sagrado das suas divindades. Ao desmoraliza-las, estava a tradição a desmoralizar as forças de ocupação. A reação do povo do local é interessante, pois mesmo após a demonstração do poder de Jesus, eles continuam com medo e pedem que ele vá embora (14-17), talvez em decorrência de possíveis represálias. Por fim, o homem que foi liberto gostaria de seguir a Jesus, sendo aconselhado a retornar para casa e testemunhar a força da misericórdia de D-us (18-20). Esta parte final é dirigida a todas as comunidades, a importância do anúncio do que o Senhor faz e fez! E quanto a nós? Nos refugiamos numa espiritualidade desencarnada da realidade e dos relacionamentos humanos? Vivemos sob o signo do medo? Pensemos nisso. Que a paz esteja com tod@s!
Imagem colhida na internet. Crédito não conhecido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário