quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Santo de casa não faz milagre?

Quarta-feira da 4ª Semana.



O texto compilado de hoje nos fala do momento em que este Evangelho foi escrito. Era um tempo muito difícil, de perseguição e da destruição do Templo de Jerusalém. Roma dominava o mundo conhecido, explorava, oprimia e devastava com a guerra aqueles que se opunham ao seu poderio. As suas Legiões de soldados causavam o medo, a destruição e a morte. As comunidades não viam futuro para os seguidores do Caminho. Estamos em Marcos 6,1-6.


1 Jesus foi a Nazaré, sua terra, e seus discípulos o acompanharam. 2 Quando chegou o sábado, começou a ensinar na sinagoga. Muitos que o escutavam ficavam admirados e diziam: “De onde recebeu ele tudo isto? Como conseguiu tanta sabedoria? E esses grandes milagres realizados por suas mãos? 3 Este homem não é o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago, de Joset, de Judas e de Simão? Suas irmãs não moram aqui conosco?” E ficaram escandalizados por causa dele. 4 Jesus lhes dizia: “Um profeta só não é estimado em sua pátria, entre seus parentes e familiares”. 5 E ali não pôde fazer milagre algum. Apenas curou alguns doentes, impondo-lhes as mãos. 6 E admirou-se com a falta de fé deles. Jesus percorria os povoados da redondeza, ensinando.

A tradição nos faz retornar à Galiléia, nos tempos de Jesus, e busca nos recordar que os seus conterrâneos não acreditavam na sua mensagem, não tinham fé no seu agir e o desprezavam. Aqueles que o conheciam não aceitaram a Boa-nova. O conflito se dava com o povo e com os próprios parentes. Não conseguiam entender e acolher o Mestre. Jesus sabia da situação, tentou fazer algo, porém o preconceito impedia a sua ação. Ele bem que tentou, porém a ausência de fé e o desdém do povo de Nazaré, o impediu. A reação do Nazareno foi a de deixar o povoado, seguir adiante, dar continuidade a sua missão em outro lugar. Naquela época não era fácil, pois existiam outros movimentos que disputavam o espaço e a simpatia junto ao povo. Onde não há fé, o milagre não acontece! Como diz a sabedoria popular: Santo de casa não faz milagre! Pensemos nos nossos círculos de convivência: família, corporação e sociedade. O que aconteceria se superássemos as nossas divisões e acreditássemos na força da nossa união? Pensemos nisso. Que a paz esteja com tod@s!

Imagem colhida na internet. Crédito não conhecido.


terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Abre-se um novo caminho para D-us.

Terça-feira da 4ª Semana.


A comunidade reflete a respeito do poder de Jesus que vence a morte e abre um novo caminho para D-us. Estamos em Marcos 5,21-43.



21 Jesus atravessou de novo, numa barca, para outra margem. Uma numerosa multidão se reuniu junto dele, e Jesus ficou na praia. 22 Aproximou-se, então, um dos chefes da sinagoga, chamado Jairo. Quando viu Jesus, caiu a seus pés, 23 e pediu com insistência: “Minha filhinha está nas últimas. Vem e põe as mãos sobre ela, para que ela sare e viva!” 24 Jesus então o acompanhou. Numerosa multidão o seguia e comprimia. 25 Ora, achava-se ali uma mulher que, há doze anos, estava com hemorragia; 26 tinha sofrido nas mãos de muitos médicos, gastou tudo o que possuía, e, em vez de melhorar, piorava cada vez mais. 27 Tendo ouvido falar de Jesus, aproximou-se dele por detrás, no meio da multidão, e tocou na sua roupa. 28 Ela pensava: “Se eu ao menos tocar na roupa dele, ficarei curada”. 29 A hemorragia parou imediatamente, e a mulher sentiu dentro de si que estava curada da doença. 30 Jesus logo percebeu que uma força tinha saído dele. E, voltando-se no meio da multidão, perguntou: “Quem tocou na minha roupa?” 31 Os discípulos disseram: “Estás vendo a multidão que te comprime e ainda perguntas: “Quem me tocou”?” 32 Ele, porém, olhava ao redor para ver quem havia feito aquilo. 33 A mulher, cheia de medo e tremendo, percebendo o que lhe havia acontecido, veio e caiu aos pés de Jesus, e contou-lhe toda a verdade. 34 Ele lhe disse: “Filha, a tua fé te curou. Vai em paz e fica curada dessa doença”. 35 Ele estava ainda falando, quando chegaram alguns da casa do chefe da sinagoga, e disseram: “Tua filha morreu. Por que ainda incomodar o mestre?” 36 Jesus ouviu a notícia e disse ao chefe da sinagoga: “Não tenhas medo. Basta ter fé!” 37 E não deixou que ninguém o acompanhasse, a não ser Pedro, Tiago e seu irmão João. 38 Quando chegaram à casa do chefe da sinagoga, Jesus viu a confusão e como estavam chorando e gritando. 39 Então, ele entrou e disse: “Por que essa confusão e esse choro? A criança não morreu, mas está dormindo”. 40 Começaram então a caçoar dele. Mas, ele mandou que todos saíssem, menos o pai e a mãe da menina, e os três discípulos que o acompanhavam. Depois entraram no quarto onde estava a criança. 41 Jesus pegou na mão da menina e disse: “Talitá cum” ó que quer dizer: “Menina, levanta-te!” 42 Ela levantou-se imediatamente e começou a andar, pois tinha doze anos. E todos ficaram admirados. 43 Ele recomendou com insistência que ninguém ficasse sabendo daquilo. E mandou dar de comer à menina.

Aqui encontramos duas mulheres marginalizadas e excluídas da comunidade. O contato com o sangue e com a morte levavam à impureza ritual e obrigava ao cumprimento das regras de purificação prescritas. A prática do Carpinteiro traz Esperança de cura para a mulher que já buscava tratamento há doze anos, de um lado e, de outro, a menina de doze anos que teria morrido. O estilo literário faz a ligação com o número doze, das tribos de Israel que, de um lado, haviam se perdido nas prescrições rituais da Antiga Aliança, tal qual a mulher que esgotara os seus recursos com os médicos e, de outro, a menina de doze anos que havia perdido a Vida. E neste particular, cuida-de da filha de Jairo, um dos chefes da Sinagoga. O Antigo Testamento esgotara assim, a sua capacidade de dar Vida, de criar Vida. Jesus abre um novo Caminho, inaugura um novo tempo, traz Esperança para povo e as comunidades de seguidores com a Boa Nova. O texto nos mostra a Jesus como uma resposta à Fé no D-us da Vida, que vence todo o flagelo da guerra, da perseguição, do sangue derramado e da morte. Não há mais lugar para a exclusão, discriminação, violência, opressão, dominação ou escravidão. Pensemos nisso. Que a paz esteja com tod@s! 

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segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Testemunhar a Misericórdia e preservar a memória.

Segunda-feira da 4ª Semana.



O texto compilado tem origem na tradição oriunda das comunidades da Galiléia, cerca de 40 anos após a execução de Jesus, por volta do ano 70 d.C., possivelmente escrito em Roma. O que se busca é preservar a história da vida, da ação e da mensagem de Jesus, em face de uma acentuada tendência de espiritualização. O texto de Marcos busca iluminar os problemas decorrentes da perseguição dos romanos aos cristãos; a rebelião dos judeus na Palestina e as consequências como a Diáspora e a destruição do Templo; os problemas internos de liderança nas comunidades; preservar a memória de Jesus e o sentido da sua execução; e, por fim, esclarecer qual o significado do seguimento do Mestre. O estilo é narrativo, quase jornalístico, presente, histórico, a relatar as ações do Nazareno, muito mais que os seus discursos. O pano de fundo é o embate entre as forças do Reino e as forças da morte. Estamos em Mc 5,1-20.



1 Jesus e seus discípulos chegaram à outra margem do mar, na região dos gerasenos. 2 Logo que saiu da barca, um homem possuído por um espírito impuro, saindo de um cemitério, foi a seu encontro. 3 Esse homem morava no meio dos túmulos e ninguém conseguia amarrá-lo, nem mesmo com correntes. 4 Muitas vezes tinha sido amarrado com algemas e correntes, mas ele arrebentava as correntes e quebrava as algemas. E ninguém era capaz de dominá-lo. 5 Dia e noite ele vagava entre os túmulos e pelos montes, gritando e ferindo-se com pedras. 6 Vendo Jesus de longe, o endemoninhado correu, caiu de joelhos diante dele 7 e gritou bem alto: "Que tens a ver comigo, Jesus, Filho do Deus altíssimo? Eu te conjuro por Deus, não me atormentes!" 8 Com efeito, Jesus lhe disse: "Espírito impuro, sai desse homem!" 9 Então Jesus perguntou: "Qual é o teu nome?" O homem respondeu: "Meu nome é 'Legião', porque somos muitos". 10 E pedia com insistência para que Jesus não o expulsasse da região. 11 Havia aí perto uma grande manada de porcos, pastando na montanha. 12 O espírito impuro suplicou, então: "Manda-nos para os porcos, para que entremos neles". 13 Jesus permitiu. Os espíritos impuros saíram do homem e entraram nos porcos. E toda manada — mais ou menos uns dois mil porcos — atirou-se monte abaixo para dentro do mar, onde se afogou. 14 Os homens que guardavam os porcos saíram correndo e espalharam a notícia na cidade e nos campos. E as pessoas foram ver o que havia acontecido. 15 Elas foram até Jesus e viram o endemoninhado sentado, vestido e no seu perfeito juízo, aquele mesmo que antes estava possuído por Legião. E ficaram com medo. 16 Os que tinham presenciado o fato explicaram-lhes o que havia acontecido com o endemoninhado e com os porcos. 17 Então começaram a pedir que Jesus fosse embora da região deles. 18 Enquanto Jesus entrava de novo na barca, o homem que tinha sido endemoninhado pediu-lhe que o deixasse ficar com ele. 19 Jesus, porém, não permitiu. Entretanto, lhe disse: "Vai para casa, para junto dos teus e anuncia-lhes tudo o que o Senhor, em sua misericórdia, fez por ti". 20 E o homem foi embora e começou a pregar na Decápole tudo o que Jesus tinha feito por ele. E todos ficavam admirados.


A narrativa nos traz para uma realidade vivida no cotidiano. Mais uma vez há o um embate com as 'forças do mal' que não deve ser personificado numa entidade mítica. As situações nas quais as comunidades estavam mergulhadas eram bem reais, naquela época, tanto quanto o é nos dias atuais. As dificuldades são reais e imediatas: fome, desemprego, vagas nas escolas, atendimento médico, corrupção, desonestidade, opressão, discriminação, enfim, a lista é imensa. A morte mata a vida! A impureza nos separa de D-us e está associada aos porcos (na conformidade da tradição judaica). Legião nada mais é que o nome dos exércitos de ocupação romana, que semeavam o medo e a morte, representantes do império opressor. O mar tem uma figura envolta em mistério e caos antes da criação e, ainda, de ser a porta de entrada dos invasores historicamente naquela região, desde os gregos. Os primeiros versículos (1-5) descrevem uma situação onde o mal aliena e maltrata as pessoas. O Evangelho busca descrever o poder do mal como o cemitério e a morte. Está associado  ao medo que assusta a todos, privando as pessoas da sua liberdade. Não existe coisa pior do que viver com medo, assutado ou com pânico. E o que ocorre com a presença de Jesus?  Diante D'Ele o mal desmorona, cai de joelhos, fica desconsertado (6-10). Ao denominar de Legião, a tradição associa ao poder político e militar dos romanos, que dominava através da suas Legiões.  O poder do mal é impuro e não tem consistência  (11-13). Não podemos esquecer que a dominação dos exércitos na antiguidade era baseada no poder sagrado das suas divindades. Ao desmoraliza-las, estava a tradição a desmoralizar as forças de ocupação. A reação do povo do local é interessante, pois mesmo após a demonstração do poder de Jesus, eles continuam com medo e pedem que ele vá embora (14-17), talvez em decorrência de possíveis represálias. Por fim, o homem que foi liberto gostaria de seguir a Jesus, sendo aconselhado a retornar para casa e testemunhar a força da misericórdia de D-us (18-20). Esta parte final é dirigida a todas as comunidades, a importância do anúncio do que o Senhor faz e fez! E quanto a nós? Nos refugiamos numa espiritualidade desencarnada da realidade e dos relacionamentos humanos? Vivemos sob o signo do medo? Pensemos nisso. Que a paz esteja com tod@s!

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domingo, 28 de janeiro de 2018

Jesus, o profeta.

Domingo da 4ª Semana.



A tradição compilada aqui registra a primeira atuação pública de Jesus. O Evangelista busca contextualizar para os cristãos romanos numa dimensão espaço/tempo (sinagoga - local de culto e sábado - leis de culto), que não eram familiarizados com os costumes judaicos, o agir do Nazareno. Estamos em Marcos 1,21-28.


21 Na cidade de Cafarnaum, num dia de sábado, Jesus entrou na sinagoga e começou a ensinar. 22 Todos ficavam admirados com o seu ensinamento, pois ensinava como quem tem autoridade, não como os mestres da Lei. 23 Estava então na sinagoga um homem possuído por um espírito mau. Ele gritou: 24 “Que queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para nos destruir? Eu sei quem tu és: tu és o Santo de Deus”. 25 Jesus o intimou: “Cala-te e sai dele!” 26 Então o espírito mau sacudiu o homem com violência, deu um grande grito e saiu. 27 E todos ficaram muito espantados e perguntavam uns aos outros: “O que é isto? Um ensinamento novo dado com autoridade: Ele manda até nos espíritos maus, e eles obedecem!”28 E a fama de Jesus logo se  espalhou por toda a parte, em toda a região da Galiléia. 


A primeira diferença dar-se no quesito autoridade. Quantas vezes não vemos nos ambões, púlpitos e palanques um discurso desenraizado da realidade e desencarnado da Vida? Quantas vezes não vemos discursos de condenação, de discriminação e de exclusão? Quantas vezes não vemos discursos de alienação, dominação e de exploração? Jesus se opunha aos 'mestres e doutores e da lei', em razão da sua prática e do seu profetismo. As denúncias de Jesus feriam de morte qualquer estrutura de usurpação ou de subjugação. A Palavra e o Agir de Jesus formavam uma unidade. E esta foi a causa primordial da sua sua morte, pois os asseclas dos poderosos não tinham como enfrentá-lo e escolheram executá-lo como exemplo para que ninguém mais ousasse desafiá-los. E quanto disso não balançou e questionou a sociedade romana com seus inúmeros locais, prescrições cultuais e poderio político de dominação do mundo conhecido de então. E, ainda, hoje se transpormos para os dias atuais para o nosso contexto social-político e religioso. O Reino de D-us era boicotado pelos 'funcionários e gerentes do sagrado' que buscavam comercializar a Graça no Mundo. É interessante que o texto registra a existência de um 'homem possuído' naquele recinto de culto. O estilo literário nada mais busca mostrar que demonstrar a falência daquele sistema religioso e daquela estrutura que havia perdido a capacidade de combater o mal. Havia a necessidade de uma nova ótica e de uma nova prática, o que se comprova pelo reconhecimento da autoridade de Jesus e dos efeitos da Sua ação. A pergunta do homem possuído a Jesus, pontua o fato de quanto mais a comunidade avança no combate ao mal, mais reações são produzidas. Basta olharmos para as reações que parte dos detentores da corrupção, da violência, do ódio e da mentira. A mensagem de Jesus tem um efeito inconfundível, pois é baseada na justiça, na igualdade e na solidariedade. Jesus não permite o mal diante de si. A vida e o bem-estar do ser humano vem em primeiro lugar e precede a tudo. Jesus tornou-se incomodo aos detentores do mal, enquanto causava admiração ao povo, que estava saturado pela indiferença da religião e da conivência com as forças opressoras e de ocupação. Jesus busca pela sua mensagem livrar os seres humanos de todas as formas de opressão e de morte, tendo iniciado a sua atuação no espaço sagrado de culto e transbordado, na sua ação, para a sociedade e suas correlações de força. E, em razão disso foi morto! O ser humano não pode ser privado da sua liberdade e da vida plena. Será que hoje conseguimos enxergar o 'mal' na nossa realidade e não como entidade mítica? Que 'mal' será este que ainda persiste? Conseguimos identificar este 'mal' que se disfarça nas estruturas, doutrinas e ritos? Conseguimos na nossa ação fazer frutificar a liberdade e a vida plena? Pensemos nisso. Que a paz esteja com tod@s!

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sábado, 27 de janeiro de 2018

Porque sois tão medrosos?

Sábado da 3ª Semana.


As adversidades que as comunidades enfrentavam no âmbito da história é o tema da compilação que nos é apresentava. As comunidades estavam inseridas na realidade humana, sendo assoladas pela relações sócio-políticas e econômicas de então. É preciso termos consciência que as reflexões compiladas emergiram de grupos de pessoas que estavam inseridas na realidade histórica de então, e não no 'céu ou paraíso' do imaginário popular cristão-ocidental. Estamos em Marcos 4,35-41:


35 Naquele dia, ao cair da tarde, Jesus disse a seus discípulos: “Vamos para a outra margem!” 36 Eles despediram a multidão e levaram Jesus consigo, assim como estava, na barca. Havia ainda outras barcas com ele. 37 Começou a soprar uma ventania muito forte e as ondas se lançavam dentro da barca, de modo que a barca já começava a se encher. 38 Jesus estava na parte de trás, dormindo sobre um travesseiro. Os discípulos o acordaram e disseram: “Mestre, estamos perecendo e tu não te importas?”39 Ele se levantou e ordenou ao vento e ao mar: “Silêncio! Cala-te!” O vento cessou e houve uma grande calmaria. 40 Então Jesus perguntou aos discípulos: “Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?” 41 Eles sentiram um grande medo e diziam uns aos outros: “Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?”



Tanto na Vida quanto no mar, encontramos dificuldades.  Não controlamos a Vida, de igual forma que não controlamos o mar. Na realidade este 'mar' referido pela tradição é um lago, o de Tiberíades, conhecido como 'Mar da Galiléia'. Em terra seca ou desértica, lago vira mar devido a escassez de água. Porém não é apenas isso.  O mar representava uma porta rumo ao desconhecido para os que partiam e, daí, também vinham as grandes invasões dos impérios estrangeiros. Nos dias atuais seria um 'buraco negro' ou 'portal estrelar' da ficção científica. A atual Palestina era uma terra de passagem entre grandes impérios e vivia sobressaltada. Naqueles dias era a vez da ocupação pelas tropas romanas. O Evangelho de Marcos retrata a situação de medo vivida pelas comunidades. Há notícias de contemporaneidade entre a época em que o texto foi compilado e a destruição do Templo de Jerusalém e a Diáspora do povo judeu. Certamente, um grande trauma para o povo judeu e para as comunidades que iniciavam a formação e que tinham raízes judaicas. Escrito em Roma, centro do mundo ocidental de então, busca mostrar que o Mestre e a mensagem do Reino ultrapassa as antigas estruturas e é a causa da nossa Esperança pelo mundo novo na história.  O Reino está em nosso meio,  não há motivo para sermos medrosos! Nós é que somos os artífices deste Reino, nós é que somos os transformadores da realidade e nós é que construímos as comunidades transformadoras da realidade.  As decepções da Vida e os desastres políticos, sociais ou econômicos não nos podem fazer desanimar, perder a Esperança ou ter medo. As forças dominadoras que representavam o 'mal', as 'forças' de ocupação, de dominação e da ilegitimidade, destruíram aquilo que representava o 'bem' para o povo. As autoridades foram implacáveis contra a população e usaram 'justificativas' para aplicar tão terríveis providências, que incluíam a deportação de todo o povo. O compromisso daquelas autoridades não era com o povo ou com o bem comum. O estilo literário nos mostra as comunidades representadas pelos barcos. As tempestades que ameaçam a nossa realidade. Quantas vezes vacilamos na Travessia? Jesus nos convida a ir para a outra margem. Precisamos encontrar o Amor do Pai na nossa Vida e nas comunidades para fazer frutificar e produzir boas obras e não ter medo.  Ele está no meio de nós! Não percamos a Esperança e a fé no possibilidade do Reino que acontece na história,  no aqui e no agora. Superemos as adversidades! A fé não tem apenas uma dimensão inimista ou pessoal, ela transborda para a realidade, para o compromisso com o justo, com a igualdade, e neste âmbito torna-se social. A mensagem do Reino repudia a injustiça, a manipulação, a exploração, a dominação, a discriminação e a exclusão. Pensemos na nossa realidade. Pensemos na sua transformação. Não desanimemos. Não percamos a Esperança. A Graça do Pai está conosco ao longo da Vida e do Caminho. O Mestre está conosco! Este dia é muito especial para mim, 27/01, pois é a minha festa de celebração da Vida, o meu aniversário. É o que posso expressar após 57 anos: Ele caminha conosco! A sua mensagem nos impulsiona na transformação da realidade e na construção de mundo novo. Que a paz esteja com tod@s!

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sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

O Reino de D-us está perto de nós.

Sexta-feira da 3ª Semana.



A comunidade de Lucas rememora a tradição e o cerne da Missão dos seguidores do movimento de Jesus. Estamos em Lc 10,1-9.


1 o Senhor escolheu outros setenta e dois discípulos e os enviou dois a dois, na sua frente, a toda cidade e lugar aonde ele próprio devia ir. 2 E dizia-lhes: "A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Por isso, pedi ao dono da messe que mande trabalhadores para a colheita. 3 Eis que vos envio como cordeiros para o meio de lobos. 4 Não leveis bolsa, nem sacola, nem sandálias, e não cumprimenteis ninguém pelo caminho! 5 Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: 'A paz esteja nesta casa!' 6 Se ali morar um amigo da paz, a vossa paz repousará sobre ele; se não, ela voltará para vós. 7 Permanecei naquela mesma casa, comei e bebei do que tiverem, porque o trabalhador merece o seu salário. Não passeis de casa em casa. 8 Quando entrardes numa cidade e fordes bem recebidos, comei do que vos servirem, 9 curai os doentes que nela houver e dizei ao povo: 'o Reino de Deus está próximo de vós'".

As recomendações são simples, objetivas e diretas. E quanto a nós? E quanto àqueles que se propõem ao seguimento? Pensemos nisso. Que a paz esteja com tod@s!

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quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Vencer o medo.

Quinta-feira da 3ª Semana.


A comunidade de Marcos reflete a respeito dos sinais que acompanham a Boa Nova e a missão de levar o Reino a toda criatura.  Estamos em Marcos 16,15-18:


Jesus se manifestou aos onze discípulos, 15 e disse-lhes: "Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura! 16 Quem crer e for batizado será salvo. Quem não crer será condenado. 17 Os sinais que acompanharão aqueles que crerem serão estes: expulsarão demônios em meu nome, falarão novas línguas; 18 se pegarem em serpentes ou beberem algum veneno mortal não lhes fará mal algum; quando impuserem as mãos sobre os doentes, eles ficarão curados".

Ressalta o texto compilado a necessidade de crer na Boa Nova. Desânimo é um fenômeno antigo, que leva tod@s a descrença na possibilidade do mundo novo. A realidade dos fatos é dura e cruel. Se acaso não forem os próprios homens e mulheres nesta Terra capazes de transformar a realidade, quem o fará? Vencer os males da nossa sociedade é imperativo para que o Reino ocorra em nosso meio. E quem poderá vencer, a não ser nós mesmos? Pensemos nisso. Que a paz esteja com tod@s!

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quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Sejamos semente.

Terça-feira da 3ª Semana.


A comunidade muito refletiu a respeito das dificuldades para fazer germinar a semente do Reino.  Estamos em Marcos 4,1-20.



1 Jesus começou a ensinar de novo às margens do mar da Galiléia. Uma multidão muito grande se reuniu em volta dele, de modo que Jesus entrou numa barca e se sentou, enquanto a multidão permanecia junto às margens, na praia. 2 Jesus ensinava-lhes muitas coisas em parábolas. E, em seu ensinamento, dizia-lhes: 3 "Escutai! O semeador saiu a semear. 4 Enquanto semeava, uma parte da semente caiu à beira do caminho; vieram os pássaros e a comeram. 5 Outra parte caiu em terreno pedregoso, onde não havia muita terra; brotou logo, porque a terra não era profunda, 6 mas, quando saiu o sol, ela foi queimada; e, como não tinha raiz, secou. 7 Outra parte caiu no meio dos espinhos; os espinhos cresceram, a sufocaram, e ela não deu fruto.8 Outra parte caiu em terra boa e deu fruto, que foi crescendo e aumentando, chegando a render trinta, sessenta e até cem por um”. 9 E Jesus dizia: "Quem tem ouvidos para ouvir, ouça". 10 Quando ficou sozinho, os que estavam com ele, junto com os Doze, perguntaram sobre as parábolas. 11 Jesus lhes disse: "A vós, foi dado o mistério do Reino de Deus; para os que estão fora, tudo acontece em parábolas, 12 para que olhem mas não enxerguem, escutem mas não compreendam, para que não se convertam e não sejam perdoados". 13 E lhes disse: "Vós não compreendeis esta parábola? Então, como compreendereis todas as outras parábolas? 14 O semeador semeia a Palavra. 15 Os que estão na beira do caminho são aqueles nos quais a Palavra foi semeada; logo que a escutam, chega Satanás e tira a Palavra que neles foi semeada. 16 Do mesmo modo, os que receberam a semente em terreno pedregoso, são aqueles que ouvem a Palavra e logo a recebem com alegria, 17 mas não têm raiz em si mesmos, são inconstantes; quando chega uma tribulação ou perseguição, por causa da Palavra, logo desistem.18 Outros recebem a semente entre os espinhos: são aqueles que ouvem a Palavra; 19 mas quando surgem as preocupações do mundo, a ilusão da riqueza e todos os outros desejos, sufocam a Palavra, e ela não produz fruto. 20 Por fim, aqueles que recebem a semente em terreno bom são os que ouvem a Palavra, a recebem e dão fruto; um dá trinta, outro sessenta e outro cem por um."



Pensemos em nós e na diversidade que enfrentamos no cotidiano para fazermos o Caminho. A realidade é dura. É necessário mantermos a Esperança. Pensemos nisso. Que a paz esteja com tod@s!

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terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Formar comunidade

Terça-feira da 3ª Semana.


A comunidade reflete a importância de formar comunidade para trilhar o Caminho do Reino. Estamos em Marcos 3,31-35.


31 chegaram a mãe de Jesus e seus irmãos. Eles ficaram do lado de fora e mandaram chamá-lo. 32 Havia uma multidão sentada ao redor dele. Então lhe disseram: "Tua mãe e teus irmãos estão lá fora à tua procura". 33 Ele respondeu: "Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?" 34 E olhando para os que estavam sentados ao seu redor, disse: "Aqui estão minha mãe e meus irmãos. 35 Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã.

A comunidade é a força dos pequenos num mundo em transformação. A expressão do bem-comum tinha de tornar-se palpável, visível e experimentada, tornando possível que o Reino ocorresse na história. Tornar-se irmão e irmã não era apenas uma quimera ou saudação social de um grupo, não constituía uma 'senha corporativa', porém a forma de enfrentamento e defesa que os pequenos encontraram como estratégia de sobrevivência. Não haveria lugar para a exclusão ou discriminação, pois tod@s eram chamados ao centro. A proposta de vida trazida por Jesus é o oposto do individualismo ou egoísmo. Traz a idéia de partilha e de igualdade que produz a felicidade de compartilhar um mundo novo e justo. Pensemos nisso. Pensemos em nossas ações. Que a paz esteja com tod@s.

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segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Basta às divisões!

Segunda-feira da 3ª Semana.


A tradição compilada relata que o conflito crescia, enquanto a Boa Notícia do Reino se espalhava e era aceita pelo povo. Nos textos antecedentes vimos o conflito de Jesus com a família. Temos agora os escribas ou mestres da lei que enfrentam e caluniam o Nazareno. Estamos em Marcos 3,22-30.


22 os mestres da Lei, que tinham vindo de Jerusalém, diziam que ele estava possuído por Beelzebul, e que pelo príncipe dos demônios ele expulsava os demônios. 23 Então Jesus os chamou e falou-lhes em parábolas: "Como é que Satanás pode expulsar a Satanás? 24 Se um reino se divide contra si mesmo ele não poderá manter-se. 25 Se uma família se divide contra si mesma, não poderá manter-se. 26 Assim, se Satanás se levanta contra si mesmo e se divide, não poderá sobreviver, mas será destruído. 27 Ninguém pode entrar na casa de um homem forte para roubar seus bens, sem antes o amarrar. Só depois poderá saquear sua casa. 28 Em verdade vos digo: tudo será perdoado aos homens, tanto nos pecados, como qualquer blasfêmia que tiverem dito. 29 Mas quem blasfemar contra o Espírito Santo, nunca será perdoado, mas será culpado de um pecado eterno". 30 Jesus falou isso, porque diziam: 'Ele está possuído por um espírito mau".

O discurso, a prática e o agir de Jesus incomodava os detentores da autoridade. Tanto que vão de Jerusalém  à Galileia, uma viagem e tanto para aquela época, aproximadamente 120 km, do centro à periferia, para estancar a atividade de Jesus. E o qual o argumento que usam contra Jesus? O preferido para os que não têm argumentos, para os que utilizam a religião como instrumento de dominação e para os que tentam oprimir pelo medo: 'Ele está possuído!!!' Os detratores de Jesus tinham medo de perder a liderança perante o povo. Este é o motivo! Jesus busca nos próprios argumentos apresentados pelos seus detratores, desmontar as acusações. Contra fatos não há argumentos e não aceitavam o que de bom estava sendo realizado em favor do povo. Pensemos na nossa realidade. Que a paz esteja com tod@s!


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domingo, 21 de janeiro de 2018

E o tempo se completou.

Domingo da 3ª Semana.


O texto compilado pela tradição nos relata o início da vida pública de Jesus, o começo na distante  Galiléia, o convite aos primeiros seguidores, após a prisão de João Batista. Estamos em Marcos 1,14-20.

14 Depois que João Batista foi preso, Jesus foi para a Galiléia, pregando o Evangelho de Deus e dizendo: 15 "O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos, e crede no Evangelho!"16 E, passando à beira do mar da Galiléia, viu Simão e André, seu irmão, que lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores. 17 Jesus lhes disse: "Segui-me e eu farei de vós pescadores de homens". 18 E eles, deixando imediatamente as redes, seguiram a Jesus. 19 Caminhando mais um pouco, viu também Tiago e João, filhos de Zebedeu. Estavam na barca, consertando as redes; 20 e logo os chamou. Eles deixaram seu pai Zebedeu na barca com os empregados, e partiram, seguindo Jesus.

Os relatos colocam a conclusão da missão de João Batista e o início da proposta de Jesus, com um novo tempo. João Batista desenvolveu suas atividades na Judéia, pregava um batismo de conversão e de retorno à religião, tendo o Templo de Jerusalém e o judaísmo como centro de sua pregação. Jesus vai para a Galileia, em meio a um povo que era desprezado, discriminado e visto com desconfiança pelo poder central, político e religioso de então. É justamente em meio a esta situação socioeconômica que inicia a pregação do Reino de D-us, que se aproxima, a urgência da conversão e de uma mudança de atitude na vida e nas relações familiares e sociais. Existe uma mudança de foco: agora é a vez da humanidade. A esperança não está num futuro distante, porém na proposta de D-us para o hoje da história, baseada no justiça, na igualdade, na fraternidade, enfim na realização da vontade do Pai na história e nas relações humano-sociais. A 'con-versão' pregada por Jesus é contínua e requer uma mudança profunda  do ser, do pensar e do agir. É exigente, pois exige uma adesão ao Reino a partir do íntimo da pessoa e não apenas de rituais externos e vazios de sentido, que denotam apenas uma superficialidade descomprometida com a transformação da realidade. Converter-se é um desafio presente em todos os tempos até aos nossos dias. Simão, André, Tiago e João, os primeiros, dentre os primeiros, aderiram ao seguimento. O que entendemos por conversão? Realmente nos convertemos ao Reino e a proposta de Jesus? Pensemos nisso. Que a paz esteja com tod@s!

Imagem colhida na internet. Crédito não conhecido. 

sábado, 20 de janeiro de 2018

Reações dos parentes

Sábado da 2ª Semana.


A comunidade de Marcos, a partir das tradições orais compiladas, busca refletir a respeito da atividade de Jesus e o conflito gerado com a sua família. Estamos em Marcos 3,20-21.

20 Jesus voltou para casa com os discípulos. E de novo se reuniu tanta gente que eles nem sequer podiam comer. 21 Quando souberam disso, os parentes de Jesus saíram para agarrá-lo, porque diziam que estava fora de si.

  Vemos, em apenas dois versículos as dificuldades enfrentadas pelo Nazareno, de um lado com a multidão de pessoas que buscavam a si e, de outro, a repercussão na sua atividade na vida familiar e nas relações com os parentes.  A esta altura dos acontecimentos, Jesus não mais residia com a família em Nazaré, porém em Cafarnaum (Mc 2,1). O texto é muito sintético, porém bastante firme no relato: não havia tempo sequer para comer devido ao fluxo de pessoas que acorriam ao seu encontro. Já o conflito com a família foi intenso, ao ponto de se deslocarem de Nazaré a Cafarnaum  para busca-lo, acusando-o de estar 'fora de si'. É interessante que a quantidade de pessoas era tão grande que não puderam chegar até Ele, tendo que mandar um recado (posteriormente narrado com detalhes em Mc 3, 31-35). Este embate foi causa de sofrimento para tod@s os envolvidos, pois o clã era a base da convivência social e a comunidade que gerava proteção para as pequenas famílias, defesa para as questões agrárias, a tradição histórica do povo e a identidade da nação. Constituía o clã a expressão da Aliança do Antigo Testamento e lugar da prática do Amor de D-us. A dominação estrangeira e a política de subserviência às forças de ocupação do governo fantoche de  Herodes Magno(37 a,C. a 4 a.C.) e de seu sucessor Herodes Antipas (4 a.C a 39 d.C.). Os problemas sociais e econômicos eram grandes, pois o povo era espoliado pelos impostos (civis e religiosos), as constantes ameaças e repressão dos romanos e a obrigação do povo de sustentar as tropas romanas de ocupação. O modelo até então vigente entra em desuso, inclusive devido a influencia do mundo grego e a presença dos romanos. Os tempos haviam mudado, para pior. A conjuntura política, em nome de uma 'suposta modernidade' estava de costas para as necessidades da população. Jesus entende que a força do povo está na formação de comunidades, não a partir do tradicional clã e pequenas famílias, porém num conceito mais amplo que a tod@s congregasse a partir da situação na qual estavam mergulhados, da realidade vivida e de Amor ao próximo. Não há lugar para marginalizados ou excluídos, tod@s são chamados ao centro. A reação de Jesus à tentativa da família de leva-lo de volta, abre esta nova perspectiva. E este era o ensinamento que transmitia e que o seu movimento apoiava: a formação de comunidades como expressão do cuidado, de proteção e do Amor do Pai Criador por tod@s, ou seja a grande família humana. Formamos comunidades ou nos fechamos numa visão egoísta de 'família'? Nossas ações são inclusivas  ou nos fechamos em pequenos grupos nos auto-condenando a extinção? Pensemos nisso. Que a paz esteja com tod@s!

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sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Chamou quem Ele quis.

Sexta-feira da 2ª Semana.



A comunidade de Marcos rememora a escolha dos doze primeiros seguidores. Há relatos, em Lc 10,1, que os seguidores chegaram a setenta e dois. A tradição reflete que doze foram escolhidos para que ficassem com Ele. Estamos em Marcos 3,13-19.

13 Jesus subiu ao monte e chamou os que ele quis. E foram até ele. 14 Então Jesus designou Doze, para que ficassem com ele e para enviá-los a pregar, 15 com autoridade para expulsar os demônios. 16 Designou, pois, os Doze: Simão, a quem deu o nome de Pedro; 17 Tiago e João, filhos de Zebedeu, aos quais deu o nome de Boanerges, que quer dizer "Filhos do trovão"; 18 André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu, Tadeu, Simão, o cananeu, 19 e Judas Iscariotes, aquele que depois o traiu.

A tradição ressalta que os primeiros seguidores foram escolhidos para ficar com Jesus, conviver e formar comunidade, por um lado e, por outro, levar a Boa-Nova ao povo, pregar e dar combate ao 'mal' que assolava a vida da população, através das crendices que a escravizavam, dominavam e fomentavam a dominação pelas autoridades civis e religiosas.  O estilo literário coloca a figura da subida do monte ou da montanha, tal qual Moisés (Ex 24,12). Esta subida representa a ascensão a um novo patamar, um crescimento, uma evolução. É estar mais próximo de D-us, do Reino e da Vontade do Pai, em linguagem figurada. É o sair da condição anterior para atingir um novo limite da experiência humana e encontrar a divindade encarnada na nossa realidade. A escolha dos doze primeiros seguidores estabelece um núcleo mais estável, que propicia a formação de uma comunidade de Vida. A prática torna-se o primado da mensagem de Jesus, pois o falar e o agir constituía uma unidade indissolúvel na pedagogia do Carpinteiro. Nada melhor que a partilha da Vida em comunidade para experienciar a concretude do Reino que constitui um projeto de transformação da realidade vivida. Não podemos esquecer que a escolha dos doze seguidores, traz às comunidades a sucessão das doze tribos de Israel. Agora a Nova Aliança é fundada em comunidade de adesão à vontade do Pai e disposição para a construção do Reino. Tod@s são bem-vindos! A origem, os laços de sangue e a condição social não mais tem importância.  Assim nasceu a primeira comunidade do Novo Tempo, do Novo Testamento. A comunidade formada em torno de Jesus tem a característica de ser uma escola do Projeto do Reino; ser missionária, pois não é fechada em si, indo ao encontro dos humanos em qualquer lugar ou situação; e, por fim viver em meio aos pobres da periférica Galiléia, portando inserida no mundo e nas contradições da existência humana. Os nomes dos seguidores em sua maioria estão dentro da tradição judaica dos patriarcas, exceto Filipe que é um nome grego, portanto estrangeiro. A Boa-Nova não mais poderia estar restrita a um povo. A humanidade era, agora, convidada para a Nova Aliança. Somos capazes de acolher e formar comunidade? Como nos portamos em relação aos nossos humanos semelhantes e seres criados? Pensemos nisso. Que a paz esteja com tod@s! 

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quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

A com-paixão de Jesus.

Quinta-feira da 2ª Semana.



O texto de hoje nos apresenta um resumo da atividade de Jesus, que aparece após a descrição dos conflitos com as autoridades e de pontuar que a sua vida e missão não seria fácil. A proposta  é exigente e requer a 'con-versão' sincera do seguidor, o que representa uma modificação verdadeira do Caminho. Estamos em Marcos 3,7-12.


7 Jesus se retirou para a beira do mar, junto com seus discípulos. Muita gente da Galiléia o seguia. 8 E também muita gente da Judéia, de Jerusalém, da Iduméia, do outro lado do Jordão, dos territórios de Tiro e Sidônia, foi até Jesus, porque tinham ouvido falar de tudo o que ele fazia. 9 Então Jesus pediu aos discípulos que lhe providenciassem uma barca, por causa da multidão, para que não o comprimisse. 10 Com efeito, Jesus tinha curado muitas pessoas, e todos os que sofriam de algum mal jogavam-se sobre ele para tocá-lo. 11 Vendo Jesus, os espíritos maus caíam a seus pés, gritando: "Tu és o Filho de Deus!" 12 Mas Jesus ordenava severamente para não dizerem quem ele era.

A descrição da atividade do Carpinteiro demonstra a enorme convergência do movimento popular, como adesão ao Seu seguimento. Dos quatro cantos surgem seguidores atraídos pelo Seu agir: da Galiléia, da Judéia, de Jerusalém, da Iduméia, do outro lado do Jordão, dos territórios de Tiro e Sidônia. O povo quer vê-lo e toca-lo. É uma verdadeira multidão, o que enseja seja providenciado um barco para que possa falar à multidão. E quem constituía esta multidão? Eram em sua maioria excluídos, marginalizados e doentes em busca de cura para os seus males. Em resumo: tod@s aqueles que não eram acolhidos pela sociedade, encontravam em Jesus a acolhida que buscavam.  Existe um contraste fundamental: as autoridades civis e religiosas tramam a sua morte, enquanto Jesus prega a vida e a defesa dos direitos e da justiça. Existe em Marcos uma insistência com a 'expulsão dos espíritos impuros' (Mc 1,25,27; 3,22; 6,7 e 16,17). E, aqui, encontramos primordialmente a solução de uma problemática utilizada pelas religiões para dominar o povo através do medo, que ao revés de libertar, alimentam a angustia e os grilhões de dominação. A Boa Nova trazida por Jesus mostra-nos que algo muito mais forte está presente no mundo e que não podemos ceder a tentação de viver sob o signo do medo ou como seu prisioneiro (Mc 3,27). Jesus vence o medo, a exclusão e a morte! Ainda hoje, vemos 'grupos religiosos' que tentam alimentar o medo das pessoas e assim mantê-las escravizadas. A humanidade consegue vários nomes tanto para aquilo que ama, tanto quanto para aquilo que teme. É próprio da cultura de cada lugar escolher vários nomes para designar a mesma coisa. E no âmbito espiritual é muito comum nominar o 'mal' por diversos apelidos. Esta 'entidade' mantem as pessoas dominadas pelo medo e ao mesmo tempo constitui um modo de exculpa-los pelos atos cometidos contra os semelhantes e a sociedade. É clara a tentativa de infantilização das pessoas no intuito de excluir a responsabilidade pessoal e ao mesmo tempo de premiação por bom comportamento. É fato que se insiste no poder do 'mal' para atrair o povo de volta às igrejas. Pensemos que a ressurreição, a sua Boa-Nova, a Nova Aliança baseada no Amor do Pai pela humanidade, afasta qualquer possibilidade de que as pessoas vivam sob o signo do medo. O Amor de D-us pela criatura vence quaisquer desafios. Somos filhos do D-us todo poderoso, o que podemos temer? Pensemos nisso. Sejamos adultos em nossa fé, afastemos o medo e as suas ameaças. Que a paz esteja com tod@s!


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quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

A história de Pipoca.

Ontem, 15/01, o nosso 'Pipoca', partiu para o céu dos cachorros. Não sabíamos a sua história ou idade, porém devido as condições físicas era um idoso e tinha provavelmente mais de doze anos. Estava conosco desde junho de 2017, quando foi resgatado em pleno centro do Recife, pelo Ricardinho, após ouvir as ameaças de que seria 'jogado no rio'. Foi abandonado numa caixa de papelão havia dias, segundo os comentários; estava desfalecido, sem forças, com medo, com sede e com fome. Era cego e epiléptico, trazia pelo corpo as marcas de uma vida de sofrimento e maus-tratos, pesando aproximadamente 4 kg, estava desnutrido. Passou, então, oito dias hospitalizado. Recuperou parte do peso e foi tratado com muitos medicamentos, que eram ministrados mais de quatro vezes por dia, ao longo de meses de muito cuidado. Usava fraldas, tinha dificuldades com a mastigação e necessidade de ser alimentado com a mão. Aprendeu a atender pelo nome de 'Pipoca' (pois era branquinho - improviso de um nome devido a necessidade do prontuário de internação). Era mais um 'sem nome', 'sem identidade' e 'sem teto', numa condição não muito diferente de tantos seres humanos, homens, mulheres, idosos ou crianças que habitam as nossas ruas e são vítimas da indiferença de uma sociedade egoísta e centrada no consumo, onde a vida humana padece nas filas em busca de atendimento médico, alimento e vítimas da violência e do abandono. O coração humano necessita aprender a ser mais 'humanizado' através do exercício da compaixão pelos seres vivos. Como exercer a compaixão se o homem criado não ama a sua própria espécie, os seus semelhantes? Aquele que planta amor, colhe amor. Ricardinho era o seu xodó, quando chegava em casa, logo vinha ao seu encontro (foto), pois sabia que estava seguro. Socorro e Ricardo revezavam nos cuidados. Foi paternado, foi maternado, foi amado. Aprendemos muito com o 'Pipoca', o seu amor pela vida e a sua capacidade de lutar. Ontem, após dez dias de uma segunda internação, uma anemia profunda que vinha sendo tratada, inclusive com transfusão de sangue, o seu coraçãozinho parou. Foi um guerreiro que vai deixar muita saudade em nossa casa. Hoje, Ricardinho e Socorro o levaram para o Cemitério Canino do Kennel Club, onde estará junto com Batata e Pitucha. Certamente terão muito o que conversar. Nossos agradecimentos aos profissionais da Clínica Amigo Fiel, em Olinda, que muito fizeram por esta vida. Descanse em paz Pipoca, você foi muito amado.



Não há momento para fazer o bem.

Quarta-feira da 2ª Semana.


A comunidade de Marcos reflete a respeito do quinto e último conflito de Jesus com as autoridades. Ao revés dos anteriores, é o próprio Jesus quem provoca este conflito. O cenário é o da sinagoga, num dia de sábado, onde participava das celebrações com o povo. Naquela época um deficiente físico não poderia participar integramente do culto, pois era considerado impuro. Cuida-se, portanto, de um excluído da sociedade pela lei, mais um marginalizado que deveria ser mantido afastado. A preocupação dos adversários é que não se deve trabalhar no sábado e o ato de curar equivaleria a um trabalho, estando portando vedado naquele dia. Um raciocínio simplista que colocava o bem-estar de um ser humano de lado, em favor de uma visão retrógrada que oprimia e escravizava pelo medo. Estamos em Marcos 3,1-6.

1 Jesus entrou de novo na sinagoga. Havia ali um homem com a mão seca. 2 Alguns o observavam para ver se haveria de curar em dia de sábado, para poderem acusá-lo. 3 Jesus disse ao homem da mão seca: "Levanta-te e fica aqui no meio!" 4 E perguntou-lhes: "É permitido no sábado fazer o bem ou fazer o mal? Salvar uma vida ou deixá-la morrer?" Mas eles nada disseram. 5 Jesus, então, olhou ao seu redor, cheio de ira e tristeza, porque eram duros de coração; e disse ao homem: "Estende a mão". Ele a estendeu e a mão ficou curada. 6 Ao saírem, os fariseus com os partidários de Herodes, imediatamente tramaram, contra Jesus, a maneira como haveriam de matá-lo. 



Jesus traz o excluído e marginalizado, da periferia para o centro e evidência da comunidade. O desprezado passa a ser a atenção daquele dia que será inesquecível. A repercussão dessa atitude foi imensa e ecoa através dos séculos. A corrente que mantinha a opressão e prisão pelo medo, foi quebrada. O homem é o que realmente importa no universo e nada pode estar acima dele, pois foi criado a imagem e semelhança de D-us. O novo tempo chegou para a inclusão e o acolhimento. Levanta-te e fica aqui no meio! Esta é a tônica da mensagem que coloca todos os humanos no centro, juntos e em condições de igualdade. Não se cuida simplesmente de uma cura, porém de 'fazer o bem' ou de 'salvar uma vida'. E quantas vezes não nos perdemos em prescrições idiotas de cunho 'religioso' que 'fazem  o mal' ou que 'matam uma vida'? Quantas vezes a religião serve a um sistema de morte? Recentemente foi noticiado que alguns líderes religiosos estariam sendo chamados para apoiar determinadas reformas. A pergunta é a quem irá servir estas reformas? A ação de Jesus deixou os adversários sem resposta! Não podemos deixar de expressar a nossa tristeza e indignação com as atitudes dos fariseus e herodianos, de ontem e de hoje, que tramam contra o povo. E hoje o que tramam? Naquele tempo passaram tramar a morte de Jesus? Jesus os denuncia, pois defende a vida. Pensemos nisso. Em nossa vida colocamos as normas acima do bem-estar das pessoas? Em nossa vida criamos exclusão e marginalização em relação aos outros?




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terça-feira, 16 de janeiro de 2018

A lei deve existir para o bem das pessoas.

Terça-feira da 2ª Semana.


A leitura de hoje dá continuidade a reflexão da comunidade Marcos em relação aos conflitos de Jesus com a lei e as autoridades. Os seguidores, passam pelas plantações e abrem o caminho arrancando espigas. O texto explica que eles estavam com fome. Os fariseus, sempre a fiscalizar, não perdem a oportunidade de questiona-los e invocar a lei judaica para acusa-los de infringir a lei do Sábado (Ex 20, 8-11). Estamos em Marcos 2,23-28.


23 Jesus estava passando por uns campos de trigo, em dia de sábado. Seus discípulos começaram a arrancar espigas, enquanto caminhavam. 24 Então os fariseus disseram a Jesus: "Olha! Por que eles fazem em dia de sábado o que não é permitido?" 25 Jesus lhes disse: "Por acaso, nunca lestes o que Davi e seus companheiros fizeram quando passaram necessidade e tiveram fome? 26 Como ele entrou na casa de Deus, no tempo em que Abiatar era sumo sacerdote, comeu os pães oferecidos a Deus, e os deu também aos seus companheiros? No entanto, só aos sacerdotes é permitido comer esses pães". 27 E acrescentou: "O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado. 28 Portanto, o Filho do Homem é senhor também do sábado".

Jesus os replica invocando a história dos antepassados que exalta os feitos de Davi, que em determinado momento e situação, para saciar a sua fome e a dos seus soldados, serviu-se dos pães sagrados do Templo (1 Sam 21, 2-7). O cumprimento da lei era muito arraigado e representava a identidade nacional, por mais de quinhentos anos, desde o retorno do exílio na Babilônia até aos tempos de Jesus. Este fundamentalismo era causa, inclusive, de tragédias. Em meados do séc.II a.C., durante uma batalha com os gregos, os macabeus, preferiram a morte a volar a lei do Sábado, para defender a própria vida. Esta atitude gerou um massacre e uma posterior reflexão a respeito do valor da vida e da sua defesa. Não é fácil, ainda nos nossos dias, fundamentalistas religiosos, geram a morte em razão de interpretações que negam os direitos das mulheres, da igualdade de gênero, dos LGBTI, dos negros, dos indígenas e minorias. Jesus conviveu na Galiléia onde o povo era vítima de exclusão e dominação em nome da lei, que diziam ser divina. A experiência de Jesus em relação a D-us, é de um D-us que é Pai/Mãe de tod@s, que nos acolhe como filh@s, e que nos torna irm@s uns dos outros. Não há lugar para a opressão e o medo de D-us. O homem é o senhor do sábado e da lei! A preservação da vida e da dignidade humana é o que realmente importa. Os fariseus utilizavam as escrituras contidas na "Bíblia" (enquanto conjunto de normas contidas nos livros sagrados) para acusar e condenar a Jesus. Jesus conhecia bem a "Bíblia" e a usava para responder as críticas. Naquele tempo a Escritura era lida nas sinagogas aos sábados. Jesus participou intensamente da vida em comunidade e assim conseguiu sentir as necessidades do povo e denunciar a hipocrisia dos fariseus que se autoproclamavam-se 'salvos', nada faziam pelo bem-comum e reforçavam as estruturas de dominação e exploração do povo. O Sábado é feito para o homem e não o contrário. Pensemos nisso. Pensemos em nossa vida e no sentido de viver. Valorizemos a vida e os irm@s, isto é o que realmente importa. Que a paz esteja com tod@s!


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segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

A prática do jejum e a liberdade.

Segunda-feira da 2ª Semana.


A comunidade de Marcos reflete a respeito dos conflitos de Jesus com as autoridades religiosas e a 'lei'. A dinâmica do ministério apresentou cinco conflitos: o perdão dos pecados (Mc 2, 1-12); a comunhão da mesa com os pecadores (Mc 2, 13-17); o jejum (Mc 2, 13-17); a observância do sábado (Mc 2, 18-28); e sobre a cura no sábado (Mc 3, 1-6). Hoje nos é apresentado o texto a respeito do conflito em relação ao jejum. Estamos em Mc 2, 18-22.

18 os discípulos de João Batista e os fariseus estavam jejuando. Então, vieram dizer a Jesus: “Por que os discípulos de João e os discípulos dos fariseus jejuam e os teus discípulos não jejuam?” 19 Jesus respondeu: “Os convidados de um casamento poderiam, por acaso, fazer jejum enquanto o noivo está com eles? Enquanto o noivo está com eles, os convidados não podem jejuar. 20 Mas vai chegar o tempo em que o noivo será tirado do meio deles; aí então eles vão jejuar. 21 Ninguém põe um remendo de pano novo numa roupa velha, porque o remendo novo repuxa o pano velho e o rasgão fica maior ainda. 22 Ninguém põe vinho novo em odres velhos,­­ porque o vinho novo arrebenta os odres velhos e o vinho e os odres se perdem. Por isso, vinho novo em odres novos”.

O jejum era uma prática comum na antiguidade e praticada por quase todas as religiões. João Batista e os fariseus também jejuavam. O próprio Jesus jejuou por 40 dias (Mt 4,2). A diferença fundamental é que Jesus não insiste no jejum. Os seguidores do judaísmo buscavam o jejum para agradar a D-us e para cumprir os marcos legais de purificação ritual. Enquanto o Carpinteiro questiona o sentido e a motivação para a sua prática. O conflito sobre o jejum ocupa o lugar central. Jesus deixa aos seguidores a liberdade para decidir quanto a este antigo preceito. A nova prática inaugurada por Jesus cuida de uma relação de amizade, de companheirismo e de partilha. O D-us encarnado feito homem, vem colocar o homem em pé diante da divindade, construindo uma nova relação baseada na responsabilidade de co-criador da realidade. A liberdade nos dá maiores responsabilidades. E isto é o que ofende as 'autoridades religiosas' que preferiam a submissão, o servilismo, o curral de ovelhas apreendidas pelo medo. Ainda hoje vemos quanta manipulação existe quando se busca nomeadamente os supostos 'mediadores' do divino ditar normas e até submeter os votos, transformando igrejas em imensos currais eleitorais, mantendo os 'cidadãos no cabresto', como se 'ovelhas' fossem. Cada vez mais os detentores da hegemonia política de tão distantes do querer dos cidadãos e eleitores, refugiam-se na perpetuação do poder, a partir da utilização dos fundamentalistas-religiosos. A prática de Jesus a tudo isso combate, pois estimula a liberdade, o pensar e a escolha dos seguidores. As afirmações de Jesus, remendo novo em roupa velha e vinho novo em barril velho, demostra uma atitude crítica de Jesus em relação ao poder e a dominação das hegemonias, como que a prevenir os seguidores a respeito dos males que afligem a sociedade humana. Jesus rejeita a manipulação dos grupos. Não se pode comparar o novo de Jesus com as velhas estruturas do poder.  O 'velho' não pode se impor ao 'novo' e impedi-lo de se manifestar. A vida segue seu próprio curso e independe da vontade dos dominadores. Será que existem estes 'remendos' em nossa vida? Como nos portamos diante das 'normas' no exercício da nossa liberdade? Pensemos nisso. Que a paz esteja com tod@s!

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domingo, 14 de janeiro de 2018

O que estamos a procurar?

Domingo da 2ª Semana. 


A leitura proposta para este domingo retoma o texto compilado pelo Evangelho de João. Ao longo da sucessão dos domingos do tempo comum a Igreja irá proporcionar às comunidades o acompanhamento dos relatos dos primeiros seguidores a respeito do ministério de Jesus, desde o início na longínqua e periférica Galileia dos gentios ou das nações, com o relaxamento dos costumes e distantes da ortodoxia judaica, até o seu final em Jerusalém. Este texto é o que melhor introduz o início da vida pública de Jesus.  Estamos em Jo 1, 35-42.


35  No dia seguinte, estava lá João outra vez com dois dos seus discípulos. 36 E, avistando Jesus que ia passando, disse: Eis o Cordeiro de Deus. 37   Os dois discípulos ouviram-no falar e seguiram Jesus. 38 Voltando-se Jesus e vendo que o seguiam, perguntou-lhes: Que procurais? Disseram-lhe: Rabi (que quer dizer Mestre), onde moras? 39   Vinde e vede, respondeu-lhes ele. Foram aonde ele morava e ficaram com ele aquele dia. Era cerca da hora décima. 40  André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que tinham ouvido João e que o tinham seguido. 41  Foi ele então logo à procura de seu irmão e disse-lhe: Achamos o Messias (que quer dizer o Cristo). 42  Levou-o a Jesus, e Jesus, fixando nele o olhar, disse: Tu és Simão, filho de João; serás chamado Cefas (que quer dizer pedra). 

O texto, em continuidade ao anterior, dá o sentido de sequência ao estilo literário de João que busca dispor os fatos numa sucessão de dias da semana. No alvorecer, no primeiro dia, nos é apresentado o Batista, que vem para preparar o Caminho e dar testemunho a respeito do Mestre. No segundo dia, temos o encontro em o Batista e o Mestre:  “cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (cf. Jo 1,29). No de hoje, há um novo encontro, e Jesus é apontado como o próprio Cordeiro de D-us (cf. Io 1,35). E qual seria o sentido de ser o um cordeiro num mundo dominado pelos 'lobos', pela 'lei dos mais fortes', pela 'corrupção', pelos 'interesses espúrios', pelo 'ódio', pelo 'egoísmo' e pela 'dominação'? Afinal de contas tudo isso era objeto da denúncia de João Batista. A indicação era justamente de que a pureza, a justeza e a retidão de Jesus, iria se contrapor às estruturas de 'pecado' vigente. O novo tempo havia chegado. Não haveria mais lugar para a injustiça e para o 'palavrório sem sentido' descolado da realidade. Em outras palavras não haveria mais lugar para o 'faça o que digo, não faça o que faço'. Aqui Jesus não é visto como o 'cordeiro do sacrifício', porém como o 'cordeiro-líder da paz, pacífico e humilde'. É necessário que aqueles que desejam o seguimento do Mestre o conheçam e aos seus propósitos. Agora os discípulos de João Batista passam ao seguimento de Jesus. Este texto expressa a maior profundidade e intensidade do olhar de Jesus ao escolher Simão Pedro, diferentemente do que fora usado em outras passagens (no original grego, existem quatro sentidos, em gradação, para o 'ver').  A pregação do Batista chegara ao fim, esgotara o seu objetivo. Agora o Velho sede lugar ao Novo. O seguimento é exigente, pois os dois discípulos convidados tiveram de deixar os seus aprendizados e inaugurar o novo Caminho. É Jesus que indaga: “O que estais procurando?” (v. 38a). Este é o questionamento que continua a ecoar através dos tempo: O que estamos a procurar? E assim o Carpinteiro inicia o seu dialogo com a humanidade. Cuida-se de uma questão de extrema profundidade colocada àqueles que pretendem o seguimento do Caminho. Qual a motivação que nos impulsiona? E o diálogo continua: 'Mestre onde moras?' Aqui não de trata de saber o endereço ou CEP. Os novos seguidores buscam conhecer o Mestre na sua intimidade, profundidade e experimentar a vida desse 'Cordeiro' mostrado por João Batista. 'Vinde e vê' é a resposta. Não há discurso, apenas o primado da Vida e da prática das ações em favor da Vida, pois o Reino é o Reino da Vida. Para o seguimento é primordial o encontro com os irm@s, a experiência da partilha, do conviver e estar junto com Ele no meio de nós mesmos humanos e da nossa humanidade. Pensemos nisso. Que a paz esteja com tod@s! Pela Graça do Pai e pelo cuidado de Maria, nossa Mãe amorosa, retorno ao serviço, após oito dias de internação hospitalar, muito agradecido pelo zelo, ajuda e solidariedade dos irm@s. 

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