domingo, 10 de setembro de 2017

A correção fraterna e a democracia.

Domingo da 23ª Semana


A correção fraterna e a sua gradação até a etapa final, que consiste na decisão da comunidade, é a tônica da pedagogia das primeiras comunidades de seguidores do movimento de Jesus. Estamos nos referindo ao texto compilado em  Mt 18,15-20. 

15 Jesus disse a seus discípulos: “Se o teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo, mas em particular, a sós contigo! Se ele te ouvir, tu ganhaste o teu irmão. 16 Se ele não ouvir, toma contigo mais uma ou duas pessoas, para que toda a questão seja decidida sob a palavra de duas ou três testemunhas. 17 Se ele não vos der ouvido, dize-o à Igreja. Se nem mesmo à Igreja ele ouvir, seja tratado como se fosse um pagão ou um pecador público. 18 Em verdade vos digo, tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu. 19 De novo, eu vos digo: se dois de vós estiverem de acordo na terra sobre qualquer coisa que quiserem pedir, isso lhes era concedido por meu Pai que está nos céus. 20 Pois, onde dois ou três estiveram reunidos em meu nome, eu estou aí no meio deles. -


A organização dos seguidores nas primevas comunidades, estava a reclamar a existência de alguma instância máxima de decisão. Ao contrário do judaísmo e dos seus conselhos de anciãos ou da organização em grupos que disputavam a pureza no cumprimento da lei, aqui encontramos a comunidade que é a responsável pelos julgamentos em última instância. Este modelo persistiu ao longo dos primeiros séculos, como exercício da plenitude da democracia em contraposição a um poder central dominador. Podemos ver aqui a influência grega que na ágora  (ἀγορά; "assembleia", "lugar de reunião") cidadãos exerciam o poder em assembléia ou eclésia (Εκκλησία; ekklesia) que era a principal instância decisória da democracia da polis ateniense. É fato! O modelo de gestão  escolhido pelos integrantes dos núcleos estabelecidos, para os seguidores de Jesus, era a democracia. Este modelo persistiu, inclusive nos  primeiros concílios, tendo degringolado após a ingerência do poder central, representado por Constantino e os interesses do Império. A Igreja, a assembléia ou a comunidade, não pode ser autocrática ou fixada na centralidade. Deve expandir-se para a periferia buscando alcançar a  democracia inclusiva nas humanas relações. Podemos perceber que a existência de um D-us Criador, não exclui a participação dos seres humanos nos seus próprios destinos, superação das divisões e na gestão do mundo no qual vivemos. Somos convidados a participar e a nos integrarmos na dinâmica política das relações que buscam o bem-comum.  O homem é o senhor na gestão do seu próprio destino e, de igual forma, os coletivos humanos. Sem tutores, sem medo, sem ditadores. O Caminho perfaz-se com as nossas próprias escolhas e a assunção das nossas responsabilidades na contribuição para a construção da realidade.  As Escrituras repetem por mais de três mil vezes que "D-us está no meio de nós", em meio às comunidades reunidas. Reflitamos no papel social que estamos a desempenhar. Pensemos nisso. Que a paz esteja com tod@s!

(Gercino)

Imagem colhida na internet. Autoria não conhecida. 


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